Sobre o desejo de ser mãe: Uma reflexão sobre a maternidade.
A história da Mulher nos mostra que esta foi marcada pela luta feminista, grandes conquistas e transformações para conseguirem seu lugar na sociedade como se configura atualmente. Dentre estas conquistas, tão importante quanto à inserção da mulher no mercado de trabalho, destaca-se o surgimento da pílula anticoncepcional na década de 1960. Este método anticonceptivo, assim como outros, foi cercado por mitos e tabus machistas da sociedade patriarcal existente. Mas trouxe consigo a possibilidade dos casais terem relações sexuais não apenas com a finalidade reprodutiva, mas por prazer. A importância de tal invenção fica por conta do empoderamento dado as mulheres, já que a partir de então elas podiam ter escolhas e controle sobre quando queriam, quantos teriam, e se queriam ter filhos.
Mulheres que não desejam ter filhos. Apesar do número expressivo de mulheres que se posicionam assim (de acordo com o IBGE, em 2010 14% das mulheres brasileiras afirmaram não querer engravidar), a temática ainda é pouco abordada, pois antes faz-se necessário quebrar um paradigma cultural que “toda mulher sonha com a maternidade”. Enquanto para os homens a paternidade é algo facultativo (basta deparar-se com dados fornecidos pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ que em 2013 apontam que 5,5 milhões de crianças brasileiras não possuem o nome do pai na certidão de nascimento), a maternidade ainda no século XXI soa como obrigação. Para ver este discursos impositivo, basta entrar em lojas de brinquedos e deparar-se com milhares de opções de bonecas-bebês e seu universo, as casinhas coloridas, as super cozinhas e seus apetrechos, tudo para que as meninas desde cedo aprendam que elas podem até terem suas profissões, mas os cuidados da casa e dos filhos farão parte da sua dupla jornada.
Seguindo a direção do que é dito como natural, existem as mulheres que desejam a maternidade. Graças a estas a espécie humana poderá perpetuar-se. Tais mulheres, quando fazem seu planejamento familiar não devem levar em consideração apenas a estabilidade financeira e na carreira, sua relação amorosa ou a pressão social lhe apontando que está na hora de ser mãe. Antes de qualquer coisa deve haver uma reflexão sobre si própria, pensar como ela age consigo para ponderar então se é o momento adequado de ter um filho. Refletir acerca do desejo de ser mãe e todas as mudanças consequentes de tal desejo. Uma mulher que faça essa escolha consciente poderá então se planejar para a gravidez e preparar-se para quando o bebê chegar.
Refletir sobre o desejo de ser mãe não deveria causar tanto espanto e aversão nas pessoas. Afinal, é com ela que o bebê tem seu primeiro vínculo. A existência da mãe, sua simples presença, age como estímulo para as respostas do bebê; sua menor ação – mesmo quando não está relacionada com o bebê, age como estímulo. A amamentação, por exemplo, não consiste apenas em satisfazer as necessidades biológicas do bebê, mas quando este chora “de fome”, esta fome vai além da comida, o bebê neste momento exige a presença da mãe, seu carinho e sua atenção. O bebê é um ser ativo, em constante comunicação com a mãe. Além disso, os primeiros contatos com o mundo externo são de extrema relevância, pois serão os mais importantes para o estabelecimento da saúde psíquica do bebê. O contexto ambiental em que o bebê está inserido também contribui de forma acentuada para o seu desenvolvimento psíquico. Assim, um ambiente familiar em que os pais vivem em harmonia auxilia a criança na ordenação do caos interior.
A opção por não ter filhos pouco tem a ver com fatores como não gostar de criança, ou não querer abrir mão, ainda que parcialmente, da carreira ou do corpo. Tem muito mais a ver com romper um discurso social de que a mulher só é plena frente à maternidade. É necessário ainda em pleno século XXI transcender ao discurso de que maternidade esta intrinsecamente ligada à feminilidade ou ao status de mulher. Refletir sobre tais questões possibilita-nos compreender que os sujeitos têm escolhas e assim poderemos traçar um caminho de respeito às escolhas dos outros.
Rayssa Karla Dourado Porto
CRP 18/02443