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21/03/2017 22:46

NÃO, NÃO É MERA FRESCURA!

Atualmente, graças ao estilo de vida corrido, cheio de ocupações, excessos de compromissos, prazos a serem cumpridos, acumulo e desvio de funções profissionais, bem como o distanciamento emocional que vamos criando como uma casca de proteção em relação aos nossos semelhantes, os distúrbios psicológicos relacionados a transtornos de ansiedade são cada vez mais comuns em nossa sociedade. A pressão exercida sobre nossos corpos e mentes é de tal magnitude, que na maioria das vezes é o gatilho para que os transtornos ligados a ansiedade virem graves problemas psicológicos e clínicos.

Crises de ansiedade podem descambar para situações de distúrbios emocionais e psicológicos que precisam ser tratados com seriedade e dado a devida atenção. Depressão, fobias, síndrome do pânico, TOC (Transtornos Obsessivos Compulsivos) Bulimia, Anorexia, Paranoias, Esquizofrenia e outros distúrbios de ordem psicológica podem se originar de crises de ansiedade latentes. Portanto, esse senso comum utilizado para estigmatizar as pessoas com transtorno de ansiedade sendo histéricas, ou como se diz popularmente, dando “ataques de frescura”, é algo de uma perversidade sacana e de consequências nefastas para quem sofre destas complicações.  O preconceito ainda é forte com os transtornos ligados a ansiedade. A maioria das pessoas ainda resiste a procurar tratamento para a doença devido a essa falsa verdade relacionando a ansiedade como uma besteira, contribuindo para disseminar erradas concepções e informações sobre a doença. A ansiedade acaba paralisando o individuo, dificultando imensamente seu cotidiano e rotina, atrapalhando as atividades no trabalho, nas relações pessoais e sociais de tal forma, que incapacita a pessoa, deixando-a paralisada frente a corriqueiras situações do dia a dia.

Existe também o estigma dado a quem acaba buscando tratamento psicológico, psiquiátrico e clinico a doença. Muitos acabam vendo as pessoas que procuram ajuda, indo a sessões de terapia, usando medicamentos e outras medidas de tratamento para a doença, como indivíduos extremamente complicados, ao quais se tem a impressão que se deve trata-los de forma cuidadosamente distante, como se estivessem fora de si. Parece que a sociedade como um todo faz um serviço um tanto cruel, dando a caricata e perversa noção aos indivíduos com transtornos psicológicos a alcunha de perturbados, malucos, que precisam ser evitados ou ignorados, deixados à margem para não incomodar o funcionamento dos afazeres sociais.

Essa noção de lugar comum é maligna, desonesta e contribui ainda mais para uma piora do transtorno. Isto acaba isolando totalmente quem sofre destes distúrbios psicológicos, fragilizando ainda mais alguém em situação nada confortável. Leva a um isolamento do individuo em relação a todo seu convívio pessoal, sente-se que esta causando problemas aos outros, culpando a si mesmo por estar doente. No momento em que mais precisa contar com apoio e companheirismo de quem vive a seu redor, subitamente muitos se afastam evitando o contato e conversa, sendo que na maioria das vezes as maiores necessidades para sua melhora acabam negando, o desejo de ser ouvido, entendido e compreendido. A sensação é de quando justamente quem sofre de transtornos de ansiedade busca tratamento e auxilio para melhorar, ela se torna um pária junto ao seu semelhante, uma espécie de intocável ou como popularmente as ruas chamam: "O doentinho".

Não falo isso de boca pra fora. Sofro com transtornos de ansiedade e passei por boa parte dos problemas que aqui citei neste texto. Poderia deixar isto passar e me silenciar em relação aos transtornos que a ansiedade gera. No entanto ficar quieto e deixar passar esta situação em nada ajudariam, pois acaba ocultando a realidade da doença e reforça ainda mais os desonestos estereótipos relacionados não só a ansiedade, mas a outros distúrbios psicológicos sérios. Expor as complicações da ansiedade não é mero desabafo meu, mas sim uma forma de por luzes e conscientizar os outros sobre a gravidade da situação. Taxar alguém de anormal, louco ou desvairado é cinicamente hipócrita, pois no fundo o ditado é verdadeiro: de perto ninguém é normal.

*Guilherme Lima


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