Síndrome do Pânico: o medo à flor da pele
Poucas coisas podem ou conseguem ser mais perturbadoras na vida do que a sensação ou a iminência de perdê-la. Acometidos pela Síndrome do Pânico são pegos de surpresa pela força avassaladora da primeira crise; e, é esse evento que acontece sem aviso prévio, que faz com que a pessoa sinta-se refém da avalanche de sensações intensas e assustadoras que envolvem o episódio. E, pior que isso, sinta-se vulnerável pelo medo de que a situação se repita. Quem sofre de Síndrome do Pânico sente-se preso num quarto escuro, envolto por opressores invisíveis que infringem dor, angústia e desconforto. E, quando a crise passa, o choque e o pavor são substituídos por tensão e medo de jamais encontrar a chave para abrir o quarto e ter direito à volta de sua vida lá fora.
Tudo começa com a primeira crise. Antes disso, a pessoa ia tocando a sua vida; aparentemente não apresentava nenhum sinal de problemas de saúde física ou psíquica. Ocorre que, em geral, o Pânico atinge pessoas que vêm sendo submetidas a situações prolongadas de estresse; insatisfação com a vida profissional ou emocional; perdas materiais ou afetivas; falta de objetivos e perspectivas; instabilidade financeira; frustração com seu próprio desempenho ao longo da vida. Ora, vivendo em um mundo regido pela competição sem limites; com exigência de performances impecáveis na vida pessoal ou profissional; pautado na aparência e felicidade via conquistas materiais, parece quase impossível não ser acometido por essas perturbações.
A ansiedade é um estado emocional que compõe a nossa maneira de interagir com o mundo. Ficamos ansiosos antes de uma entrevista de emprego; na véspera de um exame; nas horas que antecedem um encontro amoroso; com a perspectiva de consolidar uma conquista… Ocorre que a Síndrome do Pânico caracteriza-se por um estado de ansiedade que escapa aos padrões aceitáveis, fazendo com que a pessoa torne-se incapaz de cumprir com suas rotinas e, mesmo, perca a capacidade de sentir prazer com as atividades mais agradáveis, lúdicas ou de lazer.
Enfim, ficar ansioso, é parte do processo de experimentação das situações da vida e do auto-conhecimento. A ansiedade passa a ser um problema quando afeta negativamente a rotina; quando constitui elemento desencadeador da sensação de incapacidade, falta de controle, desespero e perda de contato com os recursos que nos ajudam a reequilibrar nossas emoções diante de episódios de risco, excitação, conflitos ou perigos.
A Síndrome do Pânico é diagnosticada a partir da repetição de episódios de crises. Aqueles que a enfrentam descrevem que são repentinamente acometidos por sensações físicas que podem envolver: sensação de não poder respirar; medo de morrer; dor no peito; palpitações; tontura; náuses; suor excessivo; taquicardia; tremor; medo de perder o controle; dormência ou formigamento nas mãos, pés ou rosto; dor de cabeça forte; calafrios e ondas de calor. Tudo isso, ou pelo menos quatro desses sintomas, ocorrem simultaneamente e podem perdurar em média de 10 a 20 minutos.
O gatilho é constituído por uma relação que a pessoa estabelece entre a ocorrência da crise e o local onde estava ou o que estava fazendo naquele momento. Então, se a pessoa estava dirigindo, por exemplo, quando ocorreu a crise, ela passa a ter medo de dirigir porque acredita que será atingida por uma nova crise toda vez que for dirigir. Ou, se a pessoa estava no elevador, por exemplo, passa a associar a permanência nesse local à ocorrência da crise. O estabelecimento de relação entre as crises e locais ou ocupações, fazem com que a pessoa passe a ter dificuldades de manter seus afazeres, justamente pelo medo de que a crise se repita. Há pessoas que deixam de sair de casa; não conseguem mais ficar sozinhas; passam a ter medo de tudo que possa colocá-las novamente naquela situação de sofrimento.
A insidência de Síndrome do Pânico é 70% maior em mulheres (pode haver uma falha nessa medida pelo fato de que os homens costumam buscar menos ajuda quando da ocorrência de transtornos de ansiedade) ; em geral ocorre por volta dos 25 anos (mas pode acontecer em qualquer idade). Infelizmente, não há causas específicas que possam garantir às pessoas atitudes efetivamente preventivas. Algumas hipóteses apontam para fatores genéticos, já que 35% das pessoas com Síndrome do Pânico têm familiares de 1º grau já acometidos pela doença. Outra hipótese é de que o paciente com a Síndrome sofra de uma disfunção neurológica do sistema de alerta, uma vez que em situações de medo ou perigo, nosso sistema de alerta é acionado pelo cérebro.
Uma vez diagnosticada a Síndrome do Pânico, deve-se iniciar o tratamento cujo objetivo principal é diminuir gradativamente o número de crises. O tratamento ideal é feito de forma conjunta por Psiquiatra e Psicólogo, podendo haver necessidade de uso de medicamentos. Há muitos tipos de psicoterapia capazes de auxiliar no tratamento da Síndrome. Uma vez que é o medo que traga a pessoa para dentro da crise, a sua compreensão ajuda o paciente a administrá-lo.
Conviver com a Síndrome do Pânico é um enorme desafio para quem sofre diretamente com a doença e, numa escala menor, para quem convive com o paciente. Os familiares e pessoas mais próximas de quem esteja sofrendo com a Síndrome precisam informar-se a respeito, para poder entender que trata-se de uma doença; não é “chilique”; não é invenção; muito menos algo que se provoque intencionalmente. Síndrome do Pânico é assunto para ser tratado com seriedade; compaixão; acompanhamento médico e psicológico. Diferente de outras disfunções emocionais, a Síndrome do Pânico pode ter cura, desde que o paciente receba tratamento adequado. E ela depende diretamente do estabelecimento de uma força conjunta de todos os envolvidos para que ocorra a remissão dos sintomas; e a pessoa tenha de volta a sua vida que foi temporariamente tragada pelo medo de ter medo. Ainda que Síndrome evolua para o prognóstico de um transtorno crônico, no qual as crises voltem a ocorrer a partir de elementos estressores, o paciente que mantiver as condutas clínicas prescritas pelo médico e psicólogo, terá condições de manejo dessas crises e, até, conseguir alcançar a remissão dos sintomas